sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Distrito 9

Alienígenas favelados

Distrito 9, ficção científica ambientada nas favelas da África do Sul, mostra ETs tratados como imigrantes ilegais


Um novo olhar sobre o gênero da ficção científica – este é um dos motivos para assistir ao filme Distrito 9, que tem produção de Peter Jackson (de O Senhor dos Anéis). A direção é de um estreante em longas-metragens, Neil Blookamp, criado na África do Sul, mas que fez carreira no Canadá. A trama, que evoluiu de um curta do próprio Neil, começa com elementos clássicos do gênero: a chegada de uma imensa nave de alienígenas no nosso planeta. A diferença é que eles não são maus nem têm superpoderes – são refugiados que não têm como voltar.

Os alienígenas vão parar em Johanesburgo, na África do Sul, e, como o governo não sabe o que fazer com eles, acabam num assentamento bastante semelhante às favelas de Soweto. Quando um ser humano é contaminado por um vírus dos ETs, ele passa a ser caçado, pois os governantes querem fazer experiências que tenham alguma vantagem bélica. Com medo, o humano se esconde no Distrito 9, exatamente o assentamento dos refugiados alienígenas.

O diretor disse que, desde o início do projeto, queria fugir do convencional. “Basicamente, o filme se alterna entre a história ficcional e um universo ultrarrealista”, explica, acrescentando que mistura cenas dramáticas, sequências documentais e imagens reais de noticiários. “O filme oscila entre algo que parece um filme e algo que parece estranhamente real”, define.

O curta-metragem que deu origem a Distrito 9 era um filme de ficção de baixo orçamento no estilo documentário: Alive in Jo’burg, rodado numa favela de Johanesburgo. No curta, ele introduz alienígenas intergalácticos ao cotidiano de Johanesburgo. Segundo ele, o tema do filme tem paralelos com conflitos reais da cidade. Mesmo assim o diretor nega que a produção seja uma metáfora direta sobre os problemas recentes da África do Sul, embora seja impossível dissociar o filme do seu cenário.

Na verdade, muitos filmes de ficção científica refletem questões de sua época, caso das produções dos anos 50 que evocavam o clima da Guerra Fria. O fenômeno abrange também obras recentes, como Independence Day, de 1996, sucesso de bilheteria difícil de não relacionar à nova política armamentista dos EUA em relação ao Oriente Médio.

“Na África do Sul, nós temos de enfrentar questões que as pessoas do resto do mundo, em geral, varrem para debaixo do tapete”, observa Sharlto Copley, que interpreta o protagonista, Wikus. Antes de ser contaminado, ele era um agente orgulhoso da MNU, uma empresa privada que registrará lucros exorbitantes se conseguir fazer com que as poderosas armas dos ETs funcionem.

Desde o início, estava decidido que o cenário do filme seria Johanesburgo, embora a história pudesse ser ambientada em qualquer grande cidade de um país em desenvolvimento. O tom desolador, cruel e cinzento que o diretor queria teve a ajuda do próprio tempo: as filmagens foram feitas na temporada seca de inverno. “Nós filmamos no inverno porque eu queria que a cidade do filme tivesse o aspecto de um deserto urbano calcinado”, conta.

Distrito 9: EUA/Canadá, 2009
Direção: Neil Bloomkamp
Elenco: Jason Cope, Kenneth Nkosi, William Allen Young, Sharlto Copley

Nenhum comentário:

Postar um comentário