sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Anticristo

Perdidos na floresta

Em Anticristo, seu filme mais polêmico até hoje, o premiado Lars Von Trier narra o desvario trágico de um casal

Marcado pela polêmica desde sua estreia nos anos 90 com o manifesto Dogma 95, o premiado cineasta dinamarquês Lars Von Trier parece ter chegado ao limite ao se embrenhar numa história que vai do drama ao horror: Anticristo, lançado no Festival de Cannes, em maio, dividiu a crítica e o júri, que lhe concedeu apenas o prêmio de melhor atriz para a protagonista Charlotte Gainsbourg. Ela interpreta uma mãe que acabou de perder o filho e, junto com o marido (Willem Dafoe), decide vivenciar o luto numa cabana isolada numa floresta, lugar onde os dois se entregam à dor e a atos bárbaros um contra o outro.

Anticristo é dividido em quatro atos. Em luto, a mãe, a personagem sem nome que deu a Palma de Ouro à atriz Charlotte Gainsbourg, entra num processo de culpa e depressão profundas: ao fazer amor com o marido, o casal não percebe que o seu bebê saiu do berço e despenca da janela. A seguir, no ato Dor, o marido, que é terapeuta, insiste para que o casal se afaste da cidade e passe uma temporada numa cabana no campo. No entanto, ele e a mulher saem completamente do eixo. Os dois perdem o controle de si mesmos e mergulham tragicamente nas profundezas do medo, da culpa, do ódio e da paixão. Controvérsia é o que não falta na carreira do diretor de Os Idiotas, sobre um grupo de pessoas que se passa por portadores de transtornos mentais graves. Dançando no Escuro é um musical que contraria radicalmente o clima festivo do gênero hollywoodiano.

O teatral Dogville contesta o propalado bom-mocismo dos norte-americanos ou, no mínimo, questiona as boas intenções humanas em geral.

Vaias
Em entrevista coletiva no festival francês, logo após a sessão para a imprensa, Lars Von Trier chegou a ser vaiado por alguns jornalistas. Cenas de masturbação, sexo explícito, tortura, mutilação e enterro de uma pessoa viva estão entre as que provocaram a polêmica em relação ao longa-metragem, que chega ao Brasil sem cortes. Diante das críticas, o cineasta tem se negado a explicar o filme. Quanto às reações mais passionais ao longa, ele responde que acha positivo que as pessoas saiam do cinema com “algum tipo de emoção”.

Em outra entrevista, um jornalista se manifestou: “O senhor faça o favor de explicar por que fez esse filme.” “Não tenho de me justificar. Não preciso me desculpar por nada. Vocês são os meus convidados, não o contrário. Eu trabalho para mim mesmo, não fiz esse filme para você ou para o público”, respondeu o diretor, visivelmente nervoso.

Em outra ocasião, o cineasta afirmou que fazer o filme foi uma espécie de terapia, pois recentemente ele mesmo tinha passado por um processo de depressão. Então, por que a escolha de uma história tão triste e violenta? “É mais a rotina de fazer um filme que funciona como terapia. Acordar todo dia e ir trabalhar. Isso me ajudou com a depressão”, explicou.

Ao responder sobre as imagens fortes do filme, Lars respondeu: “É tudo imagem para mim – mesmo que haja linhas feitas à giz no chão. Mas eu estava me sentindo pra baixo, deprimido – cheguei ao fundo do poço – e duvidei que fosse capaz de fazer outro filme. Porém, retornei a alguns materiais da minha juventude. Eu era muito interessado em Strindberg, especialmente na pessoa dele. Ele era incrível. Então tentei fazer um filme – nunca falei sobre isso antes e é difícil colocar em palavras – no qual eu tivesse que jogar a razão para longe por um momento”.

Anticristo:
Dinamarca/Alemanha/ França,2009
Direção: Lars Von Trier
Elenco: Willem Dafoe, Charlotte Gainsbourg

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